sexta-feira, 24 de maio de 2019


Desatino

Seu início foi apenas uma ideia
Passageira (e) inofensiva 
Uma quase companhia - absurda e furtiva
Silenciada por gritos da rotina e
Pelo cansaço dos dias, meses, anos...
É nesse silêncio que o quase e o absurdo se vão
E seu assombro aparece em claros sintomas
Como relâmpagos, trovões e nuvens escuras
Que antecedem uma tormenta,
A qual passará sem o despejo.
O vento não soprará nesta direção
Falsos apegos gerados do medo
Sem previsão
O céu cairá
E toda lucidez submergirá
A velha rotina, agora silenciada, sucumbirá
Aos pés de uma nova irrealidade mundana
Tão abstrata e vivencial
Nas ruínas do substrato
Que ainda serei eu.

sexta-feira, 5 de abril de 2019


Para além daquela circunstância,
Meu (in)oportuno deslize revelou a capa da minha chuva
Um bramido da genuína verdade, escondendo-a às claras,
Negaceando sua face à aparente lucidez meus sentidos.
Peregrino nesse arcano, pisando descalço em terreno árido.
Sob o sol, testemunho com lamúria a sombra do que fui e sou.
Exasperado, quimera qualquer se torna um covil,
Um recolhimento para minhas inseguranças,
No qual não há luz ou vislumbre algum do que serei
Não há mais engano aqui, não terei tal destino,
Pois as gotas da minha chuva não caem ao chão 
Nem mesmo se esvanecem.
Meu corpo vagueia quase sem vida
Sendo afogado em minha própria chuva.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

É chegado o fim
Fim do dia
Fim de semana
Fim do mês
Fim de uma era
Da minha, era?
Era uma vez
Uma vez só
Uma era muito bem perdida
Muito bem, perdida.
Ah, o escárnio 
E agora?
Abro os olhos
Levanto
Caminho
O caminho é outra história...

quinta-feira, 6 de abril de 2017

et lux in tenebris lucet.
Quando pequena e racemosa, não há hábil lucidez.
Criam-se sombras daquilo que era vívido, e tudo vira ancenúbio.
Verdadeiras fantasmagorias que me guiam para longe.
Quando demasiadamente luzidia, ainda que apresente a vida,
Tira-me o sentido e revela-me os segredos da cegueira.
Bafejos transformam a pequena flama em archote.
Borrascas amainam tamanho brandão.
Quanta vida investida...
Ah, mormaço impiedoso.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Despedida

O clamor tem se alastrado em mim.
É tão tácito e visceral.
Eu não quis enxergar os sinais de emergência
E tentei negar o padecimento, mesmo, e principalmente,
Diante do anúncio diário de um cortejo fúnebre infindável.
Uma urna cheia do meu vazio estava ali, mas não eu.
Aquilo não devia ser eu, pois não havia nada ali.
Dentro daquilo eu não era mais nada.
Lugar algum me pertencia.
Mesmo desejando, não estava em lugar algum.
Não havia choro ou lamentação.
Nenhuma palavra de conforto.
Palavras...
Eu as apaguei a cada sentido errado que me indicavam,
Em todo ajustamento para ligames,
Em todo nó, um erro
E em cada erro meu, que fez ou faz qualquer sentido,
Palavras...
Eu as deixo como vestígios daquilo que nunca mais serei...
Um corpo em clamor.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Pelado e inerte, observei tua bestialidade e encarniçamento
diante da perda do domínio que tinhas - apenas em tua conjectura.
Naquele instante, de tudo que ouviste, que eu havia realmente dito?
Nesse instante, é vetusto. Nem mesmo eu sei.
Passaram-se apenas alguns segundos e tu ainda estavas vociferando
 – há muito não mais te ouvia.
O que sei é que, para mim, perdeste a excentricidade,
Aquilo que te era raro, a tua estranhez,
Aquele respirar que conduzia e atiçava minha curiosidade e meu desvelo.
Não pude – não quis – lidar com teu marasmo.
Tua nova monotonia se alastrava em mim como uma septicemia.
Tua bravata se desfez perante a minha.
Tu, permeada de puerilidade diante do entejo.
Eu, supostamente impassível, mas desejante de comiseração qualquer.
Saíste sem dizer adeus.
Quanta indelicadeza tua.
Quanto azedume meu... 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Rodopios de uma história convoluta
Em torno de um centro impassível e baldo.
Guardo, no bolso, um molho para meu êxodo e
Um mapa da minha alcova, este cipoal
Onde tudo há, exceto intento de existir.
Na cabal lassidão, esquivo-me do reflexo, do trato
E do veraz viver...

sábado, 9 de julho de 2016

Quanta sede perante o copo vazio!
Escarneci-me pelo medo que tive, 
Durante incontável ínterim - a vida inteira, talvez - 
De prosseguir - com este escrito. 
Medo de preencher o vazio 
Com sombras nas quais me escondo, 
Nas quais todo impossível tem sido permitido. 
Em mim, como sobejo, a verdade, 
mas a repulsa a ela tem se mostrado implacável, 
tornando o meu viver um cediço acessório. 
Quanto co(r)po perante a sede de vazio!

domingo, 26 de junho de 2016

Sossego prazerosamente, absorto em ilusões,
Criando cenários cada vez menos prováveis e,
Nem por isso, de alguma forma, menos tangíveis.
O sentimento lacerado urge voraz pelo recobro fantasioso.
Quanta desarmonia! Opoentes proclamados. De um lado,
Doces lembranças carregadas de modesta, mas suficiente, glória,
Alimentam essa cata de regalos tão desditosos.
De outro lado, dissabores de um mundo que sempre foi mais meu.
A realidade corrente que me assusta e usurpa a resistência.
Seria fácil, se possível fosse, escolher o abandono seleto,
Sem proporção justa daquilo que penso
E sinto como divícias sublimes
Em detrimento de alguma – qualquer – paz.
Percebo-me, mais uma vez, desde o último “se”,
Orbitando indefinidamente no malogro.
Apesar de tudo, sigo num estranho e inquieto quase júbilo.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Imerso num hausto longo demais,
Não consegui retornar à superfície e
Senti que me afogava naquele único gole de ofensa sorvido.
Já não enxergava superfície para retornar.
Uma contínua autoconstrição na voragem da insegurança.
Havia me transfigurado nesse engodo.
Antes, seminal. Agora, descrente e precito.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Às vésperas de um tempo qualquer,
Sazonal como ontem, e sempre e nunca,
Desejei reconsiderar a existência da fé
 - que nunca desfrutei
Aquela que me parece tão cara, mas obstruída.
Aquela na imagem refletida ao fitar um espelho.
E trilhei, aos tropeços, por esse caminho ínvio e sem atino,
Encontrando, alastrado, o medo de reconhecer-me culpado.
Módico demais, tenho me quebrantado intencionalmente, mas
Quase sem perceber, batizado como autora e carnífice, (a)ventura,
Do meu aprazível drama.
Agora, como antes, estruturo-me num ensaio de esquiva dos encargos,
Num êxito único de um savoir-faire chinfrim.

sábado, 19 de março de 2016

Protestos sem pretextos. 
Pretextos para protestos.
Haveria algum pré-teste
Para tantos prós? 
Não (?) sou contra os prós e prés.
Nesse estado precário,
Precavido,
Prefiro o próprio amor.
Amor-próprio.

terça-feira, 8 de março de 2016

“A criança, ao nascer, é só chorar.”


Não saí incólume ao perceber o que tu, decerto,
Desatenta, não ouviste.
E ali, imóvel, afastei-me demais, encharcado por um pranto sequioso, silente.
Parti e, nessa despedida, me despi das ilusões,
Do afável entorpecer, da vida como eu não percebia.
Ah, a mágoa diante do “se” daqueles dias – anos – que,
Sem mais falsa impugnação, passaram.
O padecer por quantos mais virão,
A fúria pela falha antecipação,
O descontentamento com a realidade.
Displicente, apático, imóvel.
Uma morte imprescindível ao lenitivo.
Um escarpado renascer de um brado
Para um quase inóspito lugar já, por mim, apossado.
A quem remeto meu choro?

domingo, 6 de março de 2016

A sisudez da fraude na criação
De um caminho das lágrimas que nunca caíram
Perpetra sorrisos que nunca serão frutos vívidos
 - de veracidade aos olhos,
Mas, viciosos em sua natureza,
Mantêm jazido, após uma lasca de ardis,
Um sempiterno embate.
Imaturo, sorri.
Circunspecto, lastimo sorrindo.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

As luzes do sofrimento e do mistifório estão acesas.
Apareço? Ressurjo diante delas?
Puro embuste da sombra que me segue,
Tateia-me num pandemônio, atormenta-me em insídias. 
Ofuscado, confuso, perdido e parado no caminhar,
Tento, carinhosa e fracassadamente, abraçar fantasmas.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sentido proibido

Siga em frente, elas tentam ordenar.
Mude de sentido, não vá por aí,
Volte de onde estás.
Placas, sinais, avisos durante todo o caminho.
Talvez a falta deles fizesse mais sentido,
Mas em qual sentido continuar?
Nessa autoestrada, não vejo horizonte, não vejo limites
E toda essa sinalização impede de me ultrapassar.
Esqueço o tráfego e sigo no modo automático
Para um destino que desconheço muito bem.
Ofego, somático transeunte dentro desta máquina,
Sinalizo para o outro, que recusa a enxergar e
Eu me distraio olhando o retrovisor.
Vejo-me imprudente, infrator e sobe-me, tão alta,
A culpa pela intenção de querer sê-lo.
Destino selado.
Morto por precisas indicações,
Vivo por um irresoluto, mas desejado,
Acidente.

sábado, 14 de novembro de 2015

Olho pelas grades da janela.
O caos lá fora parece convidativo.
Para que janelas, se o mundo é proibido?
Meu corpo acorrentado nesta tranquilidade pede conflitos.
Quebro as janelas e arranco as grades de contenção dos meus desejos.
Sinto falta das necessidades que ainda não conheço.
Existir é estupidez.
Insistir é loucura.
Palavras não são refúgio.
Continuar é burrice.
Ceder, desistir, deixar, parar, desconhecer. 
Há um mundo aqui dentro que não conheço tão bem, 
Mas ele também me é proibido.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Libertação do flagelo

Há tanta escuridão aqui dentro, tanto desespero, perda, culpa, vergonha.
Tento, em vão, abrir os olhos para fora.
Temo não mais enxergar a saída.
Sujo-me de sangue, fincando minhas garras na pele,
Tentando me arrancar, a todo custo, daqui,
Desse quarto sem paredes ou grades,
Dessa imensa prisão que sou eu.
A troca de dores parece ser constante e necessária.
Inflijo-me certo horror corporal para esquecer
A dificuldade que é estar aqui, jogado ao mundo violento.
Experimento o gosto da minha própria carne despedaçada,
A fim de reorganizar os estilhaços dos afetos
Que jazem espalhados e ainda perdidos
Numa história de lutas e rotineiras rendições ao inferno que é viver
Em mim.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Esvair-se

Eu estava certo sobre algo – eu estava errado.
Já havia visto aquela cena ridícula.  
Provavelmente com outros atores, mas
Definitivamente a mesma cena.
De forma bem particular, eu a vi sorrindo para mim.
Não cometerei mais esse erro, penso agora.
Sei que me engano e acho que é proposital.
Sempre a verei sorrindo, convidativamente.
Ela mostra o rumo e futuros frutos,
Mas eu só enxergo as pedras no caminho
E mesmo faminto, sedento, eu paro.
Não há ânimo para segui-la ou tentar segurá-la perto de mim.
Eu a vejo aquela vida, que foi minha um dia, se distanciando
Talvez aquilo não seja mais ela, tampouco, sua sombra.
Resta-me este paraíso inóspito.
Resto-me nesse absurdo que é apenas existir

sábado, 31 de janeiro de 2015

Vadio

Sinto falta de todas aquelas vozes
De todos os gritos estridentes em minha cabeça
Dizendo que nada acabaria bem
                                - a verdade
Estive crente no equívoco da presença da felicidade
Agora, desatento, posso tentar me reconhecer
Omisso e combalido
Devoluto, pois tenho me abandonado
E talvez eu queira abraçar a benção dessa angústia
Que mal trará o plácido afago deste desconhecer?


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Objeto

És tão tua que tenho de lidar comigo mesmo
Nos anseios, nas entonações que machucam
No revelar dos pensamentos que eu não queria ter
Não queria ouvir – nem mesmo sentir
Eu grito com os olhos e tu, cega pela ferida
– recém-aberta
Já não encontras qualquer subterfúgio
Para as palavras que pronunciaste
Quando havia encontrado esse lado humano
Quando pensei que havia alguém
Já não penso
Tu me defines e, ao me definir
Tu me definhas
Tu me açoitas
E lanças-me nas entrelinhas da dúvida
Do inseguro sentir

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Outro dia

Amanheceu
E não era a falta de óculos
A visão estava turva de lágrimas
Amargas, salgadas, com mais (des)gosto
Que o resto da vida
E essa maresia enferrujou
As minhas cordas vocais
Arranhou minha garganta
E a voz tornou-se 
Depois, inaudível
Antes, indistinta de quaisquer grunhidos
E o grito ficou preso
E mesmo que as lágrimas 
Tenham sido secas no lençol sujo
Ainda não via a saída
E, no banheiro, ajoelhado
Vomitei todas as amarguras consumidas
Durante toda a insônia 
Da noite passada

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Eu, que já disse, certa vez, je t’aime
Me vi presente na autodescoberta
De um old but good
Sangue latino correndo in my soul
Saciando a sede de um coração
Abarrotado de espaços vazios
Eu, que não sei dizer I love you
Sem esquecer o que realmente quero ouvir
De volta, como pedido de socorro
Enquanto a insistente baladinha underground
Tocava no rádio - I’ve cut myself again
 - e de novo
Eu, que só te queria by my side
Na presença de la petit mort
  - Don’t let me die here
Sei que você ouvia a minha voz suplicando
Eu nunca soube fingir que você não acreditava
Que não era real para mim
Que não era real para ambos
Eu fugi do abraço desse desprezo querido?

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Fome

Este riso maldito 
Dentro da minha cabeça
Não vai embora.
Não vá embora.
Já me fez desalinho. 
Eu posso suportar?
Eu nem quero mais brincar
De ser eu
Se dentro eu mostro 
Eu, monstro
Sou eu?
O prazer deste estado
De dor funesta
De um auto luto divertido,
Sofrido, pervertido
É indescritível
Eu, parasita de mim
Queimando, destruindo
Sugando o eu que pensava ser bom
O que eu pensava ser
Deixando pra trás 
Este sorriso maldito
Apenas
Dentro da minha cabeça

domingo, 22 de junho de 2014

Já distorci discursos inteiros
Até mesmo imagens - as minhas, mas
Qual imagem tenho de mim?
Esta ilusão que vejo e sinto é real
Devo escolher para ser, mas
Não me escolho - furtivo, bandido
Subtraio meus próprios horizontes
Pelo distante não tenho interesse
Quero o teu mais presente, imediato
Aquele que vai além de mim
Que encontra minhas profundas raízes
Contemplando minha mais pura miragem
Que realidade sou eu?
Que outro não tem, sequer, pedaço de mim?
Nessa troca de possibilidades
Na profundidade de olhares
Algo meu - há tempos recôndito - se perde

sábado, 12 de abril de 2014

Don't rest in peace

Estar doente é engraçado.
De uma forma trágica, acho engraçado, pois
Busca-se a cura dos males de todos,
 - não apenas nossos.
Quer-se brincar do que não se pôde um dia,
Viajar para locais improváveis e
Ver o mundo aos olhos, agora, curiosos pela doença.
Estar em contato com o transcendental ou divino
E, ao mesmo tempo, esbanjar-se no consumo de tudo que é proibido
Aqui mesmo, nesta minha terra de ninguém.
Entregamo-nos aos verdadeiros sentimentos
Pedidos completamente arrependidos de perdão,
Rendição completa aos abraços eternos – de despedida;
É estranho e divertido como o mal nos ensina a viver,
A dar sem esperar receber, pois pode não haver volta;
A tirar as trancas mais óbvias e desarmar-se
A perder a guerra, pois não há motivo para lutas vãs
Não existem mais lutas ou motivos para perder.
Estar doente, caros saudáveis, é isto:
Saber que a vida é demasiadamente efêmera
Para edificarmos prisões em vez de pontes,
Rastejar, em vez de voar.
Reclamar, em vez de viver.
E quando tudo acabar – sim, vai logo acabar...
Não sou digno de pena ou de olhares tortos
Tua hora também chegará.
Que se foda, a hora chegou e eu estou indo!
Minha doença é querer ser feliz
E não posso ficar aqui parado.

sábado, 15 de março de 2014

Eu, que só queria viver e lembrar,
Resolvi me esquecer e me recriar
De novo, mais uma vez e
Quantas fossem necessárias
Até quando pudesse encarar
O meu reflexo sem temer,
Sem me desesperar,
Sem ter de ouvir os gritos
Da alma sofrida
Daquele ser que vivia
Num passado já dormente
Que agora só se faz presente
Nos espelhos quebrados
Que não mais encaro
Nas poças d'água, distorcido
Ainda refletido, sim, 
Mas que não mais reconheço
Como meu,
Apenas outro eu
Que só queria viver e lembrar.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Visão passageira

A forma que tu tens a mim
É tão ridícula!
Em minha mente residem os planos mais sólidos e 
A realidade é demasiada diferente.
Eu me rendo, me entrego, me humilho!
Refém de carinho, cárcere da tua lembrança.
Amanhã, talvez, eu já não esteja assim
Talvez eu não esteja aqui
E agora tu vens com meus desejos em mão.
E eu, sem fim, 
Já não me caibo,
Me acabo...

(In)ação

A vida vai passando e a gente não se dá conta.
É tanta conta, tanto conto, pouca história de verdade
E eu me pego chorando por um filme
E eu me vejo em um filme real sem choro nem vela
Sem roteiro, sem direção
Apenas na tua direção
Sem cortes, só feridas.
Sem final feliz, pois nenhum final é feliz.
A felicidade está no meio da película,
No transcorrer dessa trama,
Nas cenas engraçadas de drama,
Nos closes de horror.
Nos créditos e agradecimentos àqueles que nunca ajudaram.
E eu fui até esse extremo, confesso.
E me deixei por lá.
E deixei por lá o que não havia,

Necessariamente o que não quis deixar.

sábado, 16 de março de 2013

Tempo bom


O sublime doce sal da tua praia enseja alucinações
seguidas de total marasmo.
Onde eu procurei ondas, havia mansidão.
Nem uma brisa fria a soprar
E meu barco se perde parado no cais.
De nada me serve um coração que não navega por navegar.
Espero tempestades.
Já não quero um barco que não possa, um dia, afundar
E contemplar um velho-novo mundo
 - solidão.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Mudança


Havia deixado de escrever. Desistido, talvez.
Sentia falta das palavras, mas nada de reciprocidade.
Hoje não me sinto confuso, nem apático.
Não há medo do meu desconhecido ou das noites sem sono.
Meu repouso se dá em um mundo diferente e bem acordado
No qual palavras são quase inúteis e dispensáveis,
Ao passo que vão se perfazendo cada vez mais queridas, desejadas
E se desfazem como os obstáculos tidos intransponíveis por mim
Quando o que sinto é tão claro.
E pela estranheza dos argumentos que não exponho mais...
E pela clareza na explicação é que me exponho menos...
Vivo em um puro autismo seletivo - sentimental.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Estrago


Teus pensamentos são ofensas mim.
Tua vida ordinária é minha sina.
Não te desejo, mas preciso de ti.
És minha morte lenta e dolorosa.
Faz-me sentir vivo pela dor.
Ensurdece minha alma com teu olhar que grita meu nome.
Leva-me!
Trague-me!
Traga-me a tua cura, a tua doença,
A tua loucura de volta à minha quase vida.
Não avises a mim que vai embora, por favor.
Apenas saia de uma vez, me abandone.
Leve tuas tralhas imundas - teu corpo pérfido e mais nada!
Não deixe cair uma lágrima sequer no caminho
Para que eu não veja teus rastros mesquinhos
E queira seguir-te.

sábado, 15 de setembro de 2012

Casa ou baú?


Funciono, essencialmente, no modo auditivo.
Sons, mais do que qualquer outra coisa,
que me fazem pensar
ou lembrar qualquer sensação que já tenha vivido.
Não obstante, foi o silêncio das imagens
que me trouxe algo mais próximo, mais íntimo. 
Todo o caminho foi percorrido
em meu total silêncio interior, 
perturbado apenas pela barulheira infernal
das vozes daqueles miseráveis que tentam, 
tirar-me da direção certa, 
como se houvesse alguma. 
Faz pouco tempo. Talvez muito. Já não recordo. 
Tive a primeira visão do vazio, daquele branco vazio.
Senti como se aquilo copiasse minha forma, minhas vontades.
Uma página a ser rabiscada, 
milhares de ideias a serem trabalhadas. 
Possibilidades! 
No instante, grito para que me ouças de onde estiveres.
Imploro que me preenchas com tua estúpida sensação de vida. 
Quero não ser apenas mais um grande espaço repleto de nada. 
Traz contigo os teus desejos, sorrisos cheios de malícia, 
teus medos e carências, tua felicidade inteira, 
teu mais sincero amor. 
Deixa que eu os aconchegue dentro de mim
de uma forma qualquer, desordenada, 
para que quando os procurar, 
fique mais um pouco perdida dentro de mim. 
Precise de mim quando fores embora. 
Deixe tudo em mim para teres motivo para voltar. 
Faz em mim teu abrigo, 
tua morada, 
teu castelo. 
Só assim esse branco vazio
as minhas paredes terão fim.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Indômito


Teu cheiro me invade, toma meu corpo,
Faz residência já impregnado no desejo remanescente.
Tua imagem, não contínua, é verdadeira e 
Tão tangível quanto qualquer realidade ou sonho meu. 
Guardo a ti.
Recolho teus resquícios deixados em meu caminho, 
Jogados à lembrança em flashes, espasmos involuntários de vontades, por vidas, contidas.
A noite se torna um absurdo libidinoso sem controle e interminável.
Torno-me um imorigerado.
Fecho os olhos e durmo.
Sem mais esperanças do físico esta noite.
Apenas durmo.

sábado, 25 de agosto de 2012

Sentimentos escritos, palavras sentidas


Ao ler tais palavras, eu as quis ter escrito.
Fui compelido a fazer a leitura novamente e
Viajei na possibilidade de dizer algo melhor – inveja saudável.
Mas aquelas palavras simplesmente acolheram o que eu sentia
Em um abraço tão carinhoso e decisivo que me fez descansar.
Fui tomado por um vazio enorme, como se a ausência fosse tangível.
Mas tudo passou. Apenas passou.
Hoje, em outras palavras, me procurei. Abri livros, revistas, capas de discos.
Eu não estava ali. Não estava em lugar algum – decepção momentânea.
Percebi que não era a mim que procurava.
Os sentimentos descritos naquele texto eram alheios e não os meus.
E aquele abraço se tornara apertado demais. E o carinho se tornara dor.
Não havia mais sorte, nem mesmo a perfeição em outros.
O sonho, quando de olhos abertos, é melhor de viver.
E foram outras palavras que me abriram os olhos.
Estas palavras podem não ser minhas.
Se alguém já as escreveu, me processe por não citar a fonte.
Mas os sentimentos que elas carregam...
Ah! Estes, por me pertencerem, certamente são teus!

sábado, 11 de agosto de 2012


A dor dilacerante do amor. Tua presença é necessária assim como o ar desgraçado que me traz e me tira a vida, mas que não posso sequer ver. Não preciso de provas para saber que o tal sentimento existe, pois já o provei, o senti e o perdi. Hoje me sinto consumido pelo novo, pelo desconhecido. Sei que desejo, mas ainda sei amar?
Não quero sofrer mais. Não quero mais sofrer. Ando carente, choroso, impaciente, doente, calado. Entre tantos enganos que eu podia cometer, entre tantos medos, por que o de amar é o que se apresenta com mais veemência?
Não há canto desta casa que não conheça o salgado sabor das minhas lágrimas que caem confusas, molham e mancham o chão da minha história. Minhas mãos, já cansadas de enxugar as lágrimas e limpar minhas memórias, tentam sinalizar uma saída, mas meus olhos, ainda úmidos, mal enxergam que, diante de mim, não há saída alguma.
Acidentes acontecem, os olhos tremem, as mãos não obedecem, a cabeça não para. O maldito é costumeiro. Não suporto mais! Quero sair de mim! O inferno é real e está dentro de nós – de mim, ao menos. Qual a medida da sanidade de uma pessoa? E qual o início da loucura? Será amar, amar e amar, esperando que aconteça algo diferente dos últimos sofrimentos? Isso se encaixaria bem no conceito de loucura – da minha loucura. No entanto, nem todo sofrimento é igual, mas nunca menor que o anterior. Hoje apenas dói. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


Jussandra

Hoje sei que posso e devo comemorar.
Comemorar a surpresa de cada dia,
A volta da inspiração para minha poesia.
O passo adiante no meu caminhar.

Celebro certeza de ser um bobinho
Que vê a beleza intocável e eterna da vida,
Sem mais mágoa, mazela ou ferida.
Só o descanso nos teus braços, meu ninho.

Hoje, distraído, te encontro nas esquinas desta cidade.
A qual, de olhos fechados e coração aberto, ouve meu canto.
Todos sabem que és, para mim, mais que um sonho cheio de encantos.
Aquilo que eu tinha como fantasia – utopia – tornou-se realidade.

Desde aquele dia senti o sabor de uma nova vida.
Em ti encontrei segurança, afeto, chamego, uma saída
Dos dias em que não via mais o sol e não saía mais à rua
Ao te encontrar, devolveste minha vida, hoje, tua.

Consegues enxergar, em meus olhos, o teu brilho?
Aceitas a culpa de causar, a este ser, tamanha felicidade?
Fizeste-me descobrir que não sou apenas uma tela,
Que a vida vai caminhando de volta aos trilhos,
Que ainda há, em minha alma, de viver, a vontade.
E que a vida... A vida, minha criança... É muito mais do que vejo pela janela.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Reflexo


Nasci para agradar aos que não sabem o que querem.
Vivo sem saber o que dizer àqueles que precisam de conselhos.
Algo não parece comigo quando fixo o olhar no espelho.
Assuntos diversos. Não sei qual palavra tento não conhecer.
Migalhas? Sentimentos? Vidros quebrados? Tudo é sinônimo de unicidade?
Perdão se divago sobre coisas que não queres saber.
Não escrevo para satisfazer tuas - ou minhas – necessidades de bom gosto.
Não tenho bom gosto, gosto bom ou talvez nenhum gosto algum sobre isso.
Visto este terno da fissura pela letra morta.
Pelo sentido vivo das coisas vazias – como eu.
Diferente de outro dia, igual à hoje, fico parado vendo as coisas passarem.
Não tento agarrar-me, sequer, a coisa alguma.
Nem mesmo ao que escrevo. São apenas palavras.
Talvez eu não saiba o que quero. Talvez eu não precise de conselhos.
Sei que sou igual a mim, mesmo sem me olhar espelho.
E nada vai mudar isso.
Seja lá o que isso for.

sexta-feira, 6 de abril de 2012


O cheiro do quarto, pela primeira vez, me causou desânimo. Nada conseguia prender minha atenção ou manter-me calmo. Sabia o que precisava fazer. Banho, roupas limpas e uma decisão: sair para onde meus gritos de socorro não pudessem ser ouvidos por alguém, além de mim. Rapidamente recolhi somente o necessário e, ao sair, disse baixinho à mãe, palavras indistinguíveis – pois não queria ser encontrado.
Pensei em desistir. O pensamento fixou-se durante todo o trajeto. Para minha surpresa, chegando ao local predestinado, havia centenas, milhares de pessoas se divertindo, sorrindo, passeando com suas famílias e havia eu, que, sucumbindo às pressões sociais internas, isolei-me. Hoje, mais uma vez, o nosso voltaria a ser somente meu e o meu apenas existiria.
Ao sentar no banco, retirei um caderno da mochila, juntamente com uma caneta Bic que, inicialmente, insistia em não rabiscar. Enquanto tentava fazer a caneta riscar, percebia o branco espaço do papel e vi quanta liberdade havia naquilo. Nada de linhas, margens imaginárias (ou reais) para restringir seu uso. Ao mesmo tempo, percebia quão vazia estava aquela folha, esperando ser preenchida com sentimentos quaisquer. Eu já não era mais como aquela folha.
Entre uma palavra e outra, ouvia sorrisos e via olhares desconfiados e desagradáveis daqueles que passavam. Todos observavam estranhamente aquele animal solitário que, de costas para o mar, não parecia estar ali, pois não admirava a beleza do lugar, do luar e, tampouco, rendia-se perante o normal ou agia como os demais. Não podia. Tudo estava estranho.
O som do mar batendo nas pedras já não trazia afago, o vento levava as folhas do caderno e tentava fazer com que parasse de escrever, e até mesmo o luar - hoje extremamente lindo - não me fez fixar os olhos no céu por mais que alguns segundos.
Foi um dia de encontros. Reencontros, por assim dizer. Vi as palavras voltarem, a angústia bater à porta. Não havia lugar para mim, então me retirei do que era real. Percebi que, naquele momento, eu voltara a ser como aquele branco espaço do papel, já no fim da folha. Havia tanto já escrito, mas ninguém chegaria a ler. E havia um espaço bem pequeno, onde novas coisas poderiam ser escritas, mas também esquecidas em um rascunho qualquer de uma vida. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


Nada como um dia após o outro. Outro modo de sentir, do cigarro apagado, o mesmo trago. Trago comigo o gosto saudoso e amargo da última dose. Dose o sentimento de solidão da figura que não sou. Soul, como algo que não se tem definição, palavra, medida. Medida a tensão do dia vivido, tão simples e cruel, mas que já se foi. Se foi, não há o que se falar em misérias, tristezas, abismo e posterior resgate. Resgate apenas o que ainda não aconteceu, o que realmente desejas, o que está por vir. Vir e ir como dois opostos do mesmo caminho. Caminho que seguirei sem receio e que me leve qualquer destino. Destino a você cada segundo desse meu confuso viver. Viver que não se acaba de maneira perfeita, utópica, em qualquer, e talvez, no próximo passo. Passo apenas de alguém que não vê a vida como uma interpretação da escrita. Escrita de forma a pressupor meio, fim, começo. Começo o pensamento da inevitável partida. Partida vida entre o real e apenas sonho. Sonho, apenas isso.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Vida?

Tenho lido muitos poemas atrás de vestígios dos meus sentimentos. Talvez fragmentados demais para serem percebidos ou confusos demais para serem descritos. Somente quando as palavras saem de mim – ainda confusas – é que podem corresponder, mesmo que de forma imprecisa, ao que sinto. Tais palavras podem soar tristes – e talvez sejam – mas não a ideia contida. Sem contexto algum, jogadas, livres, soltas estão, como devem ser. É assim que me sinto: atravessando fronteiras impostas pelo passado. Sou livre, absurdamente fora da realidade, fora de qualquer mundo que eu tenha criado para proteção do que de melhor havia guardado em mim. Tudo isso não faz sentido algum e, ainda sim, me traz tanta paz. Parece que a felicidade me alcançou onde ninguém mais alcançaria. E ela é linda, pois a vejo de olhos fechados. De mente vazia eu a imagino. De mãos atadas eu a toco. Não há limites para a minha liberdade. Eu estou vivo! Quem poderia imaginar? A simples existência daquele ser ganhou vivência de criança, curiosidade do crescer, timidez incontida, coragem para a pura honestidade, e um sorriso como jamais visto. Felicidade, teus olhos, que me fitam atenciosamente, deixam marcas profundas; teu abraço vem confortar qualquer vestígio de sofrimento; o cheiro que exalas me entorpece para os males que dos mundos – sim, dos mundos – que poderiam me atingir; teu sorriso retira qualquer sombra de tristeza e solidão que poderiam existir em mim. Por que demoraste a chegar? Estavas perto e nunca me viste? Tentaste me alcançar antes? São perguntas que não fazem mais sentido algum, pois estás aqui. Estás aqui e eu ainda não consigo acreditar muito nisso. As coisas boas sempre me assustavam e afastavam, mas desta vez é diferente. Estou aqui. Estás aqui. Juntos, você – plenitude utópica – e eu.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Em certo tempo não mais viverei
É sempre a minha única certeza
Só o que restará: minha história, sem beleza
Nasci, aprendi, sofri, chorei

Mais um nascimento sem esperança
Em um local impróprio, inexato, imundo
Outra alma perdida no mundo
Eu nunca soube ser criança

Aprendi sempre da pior maneira
Entre tapas e quedas, constrangido
Muitas vezes e, ainda hoje, perdido
Uma vida sem eira nem beira

Ainda sofro, o corpo cheio de edemas
Marcas e feridas na alma, no meu ser
Já não tenho mais força, sorriso, porquê
Só me resta um pouco de vida – poemas.