terça-feira, 21 de abril de 2015

Libertação do flagelo

Há tanta escuridão aqui dentro, tanto desespero, perda, culpa, vergonha.
Tento, em vão, abrir os olhos para fora.
Temo não mais enxergar a saída.
Sujo-me de sangue, fincando minhas garras na pele,
Tentando me arrancar, a todo custo, daqui,
Desse quarto sem paredes ou grades,
Dessa imensa prisão que sou eu.
A troca de dores parece ser constante e necessária.
Inflijo-me certo horror corporal para esquecer
A dificuldade que é estar aqui, jogado ao mundo violento.
Experimento o gosto da minha própria carne despedaçada,
A fim de reorganizar os estilhaços dos afetos
Que jazem espalhados e ainda perdidos
Numa história de lutas e rotineiras rendições ao inferno que é viver
Em mim.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Esvair-se

Eu estava certo sobre algo – eu estava errado.
Já havia visto aquela cena ridícula.  
Provavelmente com outros atores, mas
Definitivamente a mesma cena.
De forma bem particular, eu a vi sorrindo para mim.
Não cometerei mais esse erro, penso agora.
Sei que me engano e acho que é proposital.
Sempre a verei sorrindo, convidativamente.
Ela mostra o rumo e futuros frutos,
Mas eu só enxergo as pedras no caminho
E mesmo faminto, sedento, eu paro.
Não há ânimo para segui-la ou tentar segurá-la perto de mim.
Eu a vejo aquela vida, que foi minha um dia, se distanciando
Talvez aquilo não seja mais ela, tampouco, sua sombra.
Resta-me este paraíso inóspito.
Resto-me nesse absurdo que é apenas existir