quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Mudança


Havia deixado de escrever. Desistido, talvez.
Sentia falta das palavras, mas nada de reciprocidade.
Hoje não me sinto confuso, nem apático.
Não há medo do meu desconhecido ou das noites sem sono.
Meu repouso se dá em um mundo diferente e bem acordado
No qual palavras são quase inúteis e dispensáveis,
Ao passo que vão se perfazendo cada vez mais queridas, desejadas
E se desfazem como os obstáculos tidos intransponíveis por mim
Quando o que sinto é tão claro.
E pela estranheza dos argumentos que não exponho mais...
E pela clareza na explicação é que me exponho menos...
Vivo em um puro autismo seletivo - sentimental.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Estrago


Teus pensamentos são ofensas mim.
Tua vida ordinária é minha sina.
Não te desejo, mas preciso de ti.
És minha morte lenta e dolorosa.
Faz-me sentir vivo pela dor.
Ensurdece minha alma com teu olhar que grita meu nome.
Leva-me!
Trague-me!
Traga-me a tua cura, a tua doença,
A tua loucura de volta à minha quase vida.
Não avises a mim que vai embora, por favor.
Apenas saia de uma vez, me abandone.
Leve tuas tralhas imundas - teu corpo pérfido e mais nada!
Não deixe cair uma lágrima sequer no caminho
Para que eu não veja teus rastros mesquinhos
E queira seguir-te.

sábado, 15 de setembro de 2012

Casa ou baú?


Funciono, essencialmente, no modo auditivo.
Sons, mais do que qualquer outra coisa,
que me fazem pensar
ou lembrar qualquer sensação que já tenha vivido.
Não obstante, foi o silêncio das imagens
que me trouxe algo mais próximo, mais íntimo. 
Todo o caminho foi percorrido
em meu total silêncio interior, 
perturbado apenas pela barulheira infernal
das vozes daqueles miseráveis que tentam, 
tirar-me da direção certa, 
como se houvesse alguma. 
Faz pouco tempo. Talvez muito. Já não recordo. 
Tive a primeira visão do vazio, daquele branco vazio.
Senti como se aquilo copiasse minha forma, minhas vontades.
Uma página a ser rabiscada, 
milhares de ideias a serem trabalhadas. 
Possibilidades! 
No instante, grito para que me ouças de onde estiveres.
Imploro que me preenchas com tua estúpida sensação de vida. 
Quero não ser apenas mais um grande espaço repleto de nada. 
Traz contigo os teus desejos, sorrisos cheios de malícia, 
teus medos e carências, tua felicidade inteira, 
teu mais sincero amor. 
Deixa que eu os aconchegue dentro de mim
de uma forma qualquer, desordenada, 
para que quando os procurar, 
fique mais um pouco perdida dentro de mim. 
Precise de mim quando fores embora. 
Deixe tudo em mim para teres motivo para voltar. 
Faz em mim teu abrigo, 
tua morada, 
teu castelo. 
Só assim esse branco vazio
as minhas paredes terão fim.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Indômito


Teu cheiro me invade, toma meu corpo,
Faz residência já impregnado no desejo remanescente.
Tua imagem, não contínua, é verdadeira e 
Tão tangível quanto qualquer realidade ou sonho meu. 
Guardo a ti.
Recolho teus resquícios deixados em meu caminho, 
Jogados à lembrança em flashes, espasmos involuntários de vontades, por vidas, contidas.
A noite se torna um absurdo libidinoso sem controle e interminável.
Torno-me um imorigerado.
Fecho os olhos e durmo.
Sem mais esperanças do físico esta noite.
Apenas durmo.

sábado, 25 de agosto de 2012

Sentimentos escritos, palavras sentidas


Ao ler tais palavras, eu as quis ter escrito.
Fui compelido a fazer a leitura novamente e
Viajei na possibilidade de dizer algo melhor – inveja saudável.
Mas aquelas palavras simplesmente acolheram o que eu sentia
Em um abraço tão carinhoso e decisivo que me fez descansar.
Fui tomado por um vazio enorme, como se a ausência fosse tangível.
Mas tudo passou. Apenas passou.
Hoje, em outras palavras, me procurei. Abri livros, revistas, capas de discos.
Eu não estava ali. Não estava em lugar algum – decepção momentânea.
Percebi que não era a mim que procurava.
Os sentimentos descritos naquele texto eram alheios e não os meus.
E aquele abraço se tornara apertado demais. E o carinho se tornara dor.
Não havia mais sorte, nem mesmo a perfeição em outros.
O sonho, quando de olhos abertos, é melhor de viver.
E foram outras palavras que me abriram os olhos.
Estas palavras podem não ser minhas.
Se alguém já as escreveu, me processe por não citar a fonte.
Mas os sentimentos que elas carregam...
Ah! Estes, por me pertencerem, certamente são teus!

sábado, 11 de agosto de 2012


A dor dilacerante do amor. Tua presença é necessária assim como o ar desgraçado que me traz e me tira a vida, mas que não posso sequer ver. Não preciso de provas para saber que o tal sentimento existe, pois já o provei, o senti e o perdi. Hoje me sinto consumido pelo novo, pelo desconhecido. Sei que desejo, mas ainda sei amar?
Não quero sofrer mais. Não quero mais sofrer. Ando carente, choroso, impaciente, doente, calado. Entre tantos enganos que eu podia cometer, entre tantos medos, por que o de amar é o que se apresenta com mais veemência?
Não há canto desta casa que não conheça o salgado sabor das minhas lágrimas que caem confusas, molham e mancham o chão da minha história. Minhas mãos, já cansadas de enxugar as lágrimas e limpar minhas memórias, tentam sinalizar uma saída, mas meus olhos, ainda úmidos, mal enxergam que, diante de mim, não há saída alguma.
Acidentes acontecem, os olhos tremem, as mãos não obedecem, a cabeça não para. O maldito é costumeiro. Não suporto mais! Quero sair de mim! O inferno é real e está dentro de nós – de mim, ao menos. Qual a medida da sanidade de uma pessoa? E qual o início da loucura? Será amar, amar e amar, esperando que aconteça algo diferente dos últimos sofrimentos? Isso se encaixaria bem no conceito de loucura – da minha loucura. No entanto, nem todo sofrimento é igual, mas nunca menor que o anterior. Hoje apenas dói. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


Jussandra

Hoje sei que posso e devo comemorar.
Comemorar a surpresa de cada dia,
A volta da inspiração para minha poesia.
O passo adiante no meu caminhar.

Celebro certeza de ser um bobinho
Que vê a beleza intocável e eterna da vida,
Sem mais mágoa, mazela ou ferida.
Só o descanso nos teus braços, meu ninho.

Hoje, distraído, te encontro nas esquinas desta cidade.
A qual, de olhos fechados e coração aberto, ouve meu canto.
Todos sabem que és, para mim, mais que um sonho cheio de encantos.
Aquilo que eu tinha como fantasia – utopia – tornou-se realidade.

Desde aquele dia senti o sabor de uma nova vida.
Em ti encontrei segurança, afeto, chamego, uma saída
Dos dias em que não via mais o sol e não saía mais à rua
Ao te encontrar, devolveste minha vida, hoje, tua.

Consegues enxergar, em meus olhos, o teu brilho?
Aceitas a culpa de causar, a este ser, tamanha felicidade?
Fizeste-me descobrir que não sou apenas uma tela,
Que a vida vai caminhando de volta aos trilhos,
Que ainda há, em minha alma, de viver, a vontade.
E que a vida... A vida, minha criança... É muito mais do que vejo pela janela.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Reflexo


Nasci para agradar aos que não sabem o que querem.
Vivo sem saber o que dizer àqueles que precisam de conselhos.
Algo não parece comigo quando fixo o olhar no espelho.
Assuntos diversos. Não sei qual palavra tento não conhecer.
Migalhas? Sentimentos? Vidros quebrados? Tudo é sinônimo de unicidade?
Perdão se divago sobre coisas que não queres saber.
Não escrevo para satisfazer tuas - ou minhas – necessidades de bom gosto.
Não tenho bom gosto, gosto bom ou talvez nenhum gosto algum sobre isso.
Visto este terno da fissura pela letra morta.
Pelo sentido vivo das coisas vazias – como eu.
Diferente de outro dia, igual à hoje, fico parado vendo as coisas passarem.
Não tento agarrar-me, sequer, a coisa alguma.
Nem mesmo ao que escrevo. São apenas palavras.
Talvez eu não saiba o que quero. Talvez eu não precise de conselhos.
Sei que sou igual a mim, mesmo sem me olhar espelho.
E nada vai mudar isso.
Seja lá o que isso for.

sexta-feira, 6 de abril de 2012


O cheiro do quarto, pela primeira vez, me causou desânimo. Nada conseguia prender minha atenção ou manter-me calmo. Sabia o que precisava fazer. Banho, roupas limpas e uma decisão: sair para onde meus gritos de socorro não pudessem ser ouvidos por alguém, além de mim. Rapidamente recolhi somente o necessário e, ao sair, disse baixinho à mãe, palavras indistinguíveis – pois não queria ser encontrado.
Pensei em desistir. O pensamento fixou-se durante todo o trajeto. Para minha surpresa, chegando ao local predestinado, havia centenas, milhares de pessoas se divertindo, sorrindo, passeando com suas famílias e havia eu, que, sucumbindo às pressões sociais internas, isolei-me. Hoje, mais uma vez, o nosso voltaria a ser somente meu e o meu apenas existiria.
Ao sentar no banco, retirei um caderno da mochila, juntamente com uma caneta Bic que, inicialmente, insistia em não rabiscar. Enquanto tentava fazer a caneta riscar, percebia o branco espaço do papel e vi quanta liberdade havia naquilo. Nada de linhas, margens imaginárias (ou reais) para restringir seu uso. Ao mesmo tempo, percebia quão vazia estava aquela folha, esperando ser preenchida com sentimentos quaisquer. Eu já não era mais como aquela folha.
Entre uma palavra e outra, ouvia sorrisos e via olhares desconfiados e desagradáveis daqueles que passavam. Todos observavam estranhamente aquele animal solitário que, de costas para o mar, não parecia estar ali, pois não admirava a beleza do lugar, do luar e, tampouco, rendia-se perante o normal ou agia como os demais. Não podia. Tudo estava estranho.
O som do mar batendo nas pedras já não trazia afago, o vento levava as folhas do caderno e tentava fazer com que parasse de escrever, e até mesmo o luar - hoje extremamente lindo - não me fez fixar os olhos no céu por mais que alguns segundos.
Foi um dia de encontros. Reencontros, por assim dizer. Vi as palavras voltarem, a angústia bater à porta. Não havia lugar para mim, então me retirei do que era real. Percebi que, naquele momento, eu voltara a ser como aquele branco espaço do papel, já no fim da folha. Havia tanto já escrito, mas ninguém chegaria a ler. E havia um espaço bem pequeno, onde novas coisas poderiam ser escritas, mas também esquecidas em um rascunho qualquer de uma vida. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


Nada como um dia após o outro. Outro modo de sentir, do cigarro apagado, o mesmo trago. Trago comigo o gosto saudoso e amargo da última dose. Dose o sentimento de solidão da figura que não sou. Soul, como algo que não se tem definição, palavra, medida. Medida a tensão do dia vivido, tão simples e cruel, mas que já se foi. Se foi, não há o que se falar em misérias, tristezas, abismo e posterior resgate. Resgate apenas o que ainda não aconteceu, o que realmente desejas, o que está por vir. Vir e ir como dois opostos do mesmo caminho. Caminho que seguirei sem receio e que me leve qualquer destino. Destino a você cada segundo desse meu confuso viver. Viver que não se acaba de maneira perfeita, utópica, em qualquer, e talvez, no próximo passo. Passo apenas de alguém que não vê a vida como uma interpretação da escrita. Escrita de forma a pressupor meio, fim, começo. Começo o pensamento da inevitável partida. Partida vida entre o real e apenas sonho. Sonho, apenas isso.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Vida?

Tenho lido muitos poemas atrás de vestígios dos meus sentimentos. Talvez fragmentados demais para serem percebidos ou confusos demais para serem descritos. Somente quando as palavras saem de mim – ainda confusas – é que podem corresponder, mesmo que de forma imprecisa, ao que sinto. Tais palavras podem soar tristes – e talvez sejam – mas não a ideia contida. Sem contexto algum, jogadas, livres, soltas estão, como devem ser. É assim que me sinto: atravessando fronteiras impostas pelo passado. Sou livre, absurdamente fora da realidade, fora de qualquer mundo que eu tenha criado para proteção do que de melhor havia guardado em mim. Tudo isso não faz sentido algum e, ainda sim, me traz tanta paz. Parece que a felicidade me alcançou onde ninguém mais alcançaria. E ela é linda, pois a vejo de olhos fechados. De mente vazia eu a imagino. De mãos atadas eu a toco. Não há limites para a minha liberdade. Eu estou vivo! Quem poderia imaginar? A simples existência daquele ser ganhou vivência de criança, curiosidade do crescer, timidez incontida, coragem para a pura honestidade, e um sorriso como jamais visto. Felicidade, teus olhos, que me fitam atenciosamente, deixam marcas profundas; teu abraço vem confortar qualquer vestígio de sofrimento; o cheiro que exalas me entorpece para os males que dos mundos – sim, dos mundos – que poderiam me atingir; teu sorriso retira qualquer sombra de tristeza e solidão que poderiam existir em mim. Por que demoraste a chegar? Estavas perto e nunca me viste? Tentaste me alcançar antes? São perguntas que não fazem mais sentido algum, pois estás aqui. Estás aqui e eu ainda não consigo acreditar muito nisso. As coisas boas sempre me assustavam e afastavam, mas desta vez é diferente. Estou aqui. Estás aqui. Juntos, você – plenitude utópica – e eu.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Em certo tempo não mais viverei
É sempre a minha única certeza
Só o que restará: minha história, sem beleza
Nasci, aprendi, sofri, chorei

Mais um nascimento sem esperança
Em um local impróprio, inexato, imundo
Outra alma perdida no mundo
Eu nunca soube ser criança

Aprendi sempre da pior maneira
Entre tapas e quedas, constrangido
Muitas vezes e, ainda hoje, perdido
Uma vida sem eira nem beira

Ainda sofro, o corpo cheio de edemas
Marcas e feridas na alma, no meu ser
Já não tenho mais força, sorriso, porquê
Só me resta um pouco de vida – poemas.