domingo, 25 de dezembro de 2016

Despedida

O clamor tem se alastrado em mim.
É tão tácito e visceral.
Eu não quis enxergar os sinais de emergência
E tentei negar o padecimento, mesmo, e principalmente,
Diante do anúncio diário de um cortejo fúnebre infindável.
Uma urna cheia do meu vazio estava ali, mas não eu.
Aquilo não devia ser eu, pois não havia nada ali.
Dentro daquilo eu não era mais nada.
Lugar algum me pertencia.
Mesmo desejando, não estava em lugar algum.
Não havia choro ou lamentação.
Nenhuma palavra de conforto.
Palavras...
Eu as apaguei a cada sentido errado que me indicavam,
Em todo ajustamento para ligames,
Em todo nó, um erro
E em cada erro meu, que fez ou faz qualquer sentido,
Palavras...
Eu as deixo como vestígios daquilo que nunca mais serei...
Um corpo em clamor.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Pelado e inerte, observei tua bestialidade e encarniçamento
diante da perda do domínio que tinhas - apenas em tua conjectura.
Naquele instante, de tudo que ouviste, que eu havia realmente dito?
Nesse instante, é vetusto. Nem mesmo eu sei.
Passaram-se apenas alguns segundos e tu ainda estavas vociferando
 – há muito não mais te ouvia.
O que sei é que, para mim, perdeste a excentricidade,
Aquilo que te era raro, a tua estranhez,
Aquele respirar que conduzia e atiçava minha curiosidade e meu desvelo.
Não pude – não quis – lidar com teu marasmo.
Tua nova monotonia se alastrava em mim como uma septicemia.
Tua bravata se desfez perante a minha.
Tu, permeada de puerilidade diante do entejo.
Eu, supostamente impassível, mas desejante de comiseração qualquer.
Saíste sem dizer adeus.
Quanta indelicadeza tua.
Quanto azedume meu... 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Rodopios de uma história convoluta
Em torno de um centro impassível e baldo.
Guardo, no bolso, um molho para meu êxodo e
Um mapa da minha alcova, este cipoal
Onde tudo há, exceto intento de existir.
Na cabal lassidão, esquivo-me do reflexo, do trato
E do veraz viver...

sábado, 9 de julho de 2016

Quanta sede perante o copo vazio!
Escarneci-me pelo medo que tive, 
Durante incontável ínterim - a vida inteira, talvez - 
De prosseguir - com este escrito. 
Medo de preencher o vazio 
Com sombras nas quais me escondo, 
Nas quais todo impossível tem sido permitido. 
Em mim, como sobejo, a verdade, 
mas a repulsa a ela tem se mostrado implacável, 
tornando o meu viver um cediço acessório. 
Quanto co(r)po perante a sede de vazio!

domingo, 26 de junho de 2016

Sossego prazerosamente, absorto em ilusões,
Criando cenários cada vez menos prováveis e,
Nem por isso, de alguma forma, menos tangíveis.
O sentimento lacerado urge voraz pelo recobro fantasioso.
Quanta desarmonia! Opoentes proclamados. De um lado,
Doces lembranças carregadas de modesta, mas suficiente, glória,
Alimentam essa cata de regalos tão desditosos.
De outro lado, dissabores de um mundo que sempre foi mais meu.
A realidade corrente que me assusta e usurpa a resistência.
Seria fácil, se possível fosse, escolher o abandono seleto,
Sem proporção justa daquilo que penso
E sinto como divícias sublimes
Em detrimento de alguma – qualquer – paz.
Percebo-me, mais uma vez, desde o último “se”,
Orbitando indefinidamente no malogro.
Apesar de tudo, sigo num estranho e inquieto quase júbilo.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Imerso num hausto longo demais,
Não consegui retornar à superfície e
Senti que me afogava naquele único gole de ofensa sorvido.
Já não enxergava superfície para retornar.
Uma contínua autoconstrição na voragem da insegurança.
Havia me transfigurado nesse engodo.
Antes, seminal. Agora, descrente e precito.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Às vésperas de um tempo qualquer,
Sazonal como ontem, e sempre e nunca,
Desejei reconsiderar a existência da fé
 - que nunca desfrutei
Aquela que me parece tão cara, mas obstruída.
Aquela na imagem refletida ao fitar um espelho.
E trilhei, aos tropeços, por esse caminho ínvio e sem atino,
Encontrando, alastrado, o medo de reconhecer-me culpado.
Módico demais, tenho me quebrantado intencionalmente, mas
Quase sem perceber, batizado como autora e carnífice, (a)ventura,
Do meu aprazível drama.
Agora, como antes, estruturo-me num ensaio de esquiva dos encargos,
Num êxito único de um savoir-faire chinfrim.

sábado, 19 de março de 2016

Protestos sem pretextos. 
Pretextos para protestos.
Haveria algum pré-teste
Para tantos prós? 
Não (?) sou contra os prós e prés.
Nesse estado precário,
Precavido,
Prefiro o próprio amor.
Amor-próprio.

terça-feira, 8 de março de 2016

“A criança, ao nascer, é só chorar.”


Não saí incólume ao perceber o que tu, decerto,
Desatenta, não ouviste.
E ali, imóvel, afastei-me demais, encharcado por um pranto sequioso, silente.
Parti e, nessa despedida, me despi das ilusões,
Do afável entorpecer, da vida como eu não percebia.
Ah, a mágoa diante do “se” daqueles dias – anos – que,
Sem mais falsa impugnação, passaram.
O padecer por quantos mais virão,
A fúria pela falha antecipação,
O descontentamento com a realidade.
Displicente, apático, imóvel.
Uma morte imprescindível ao lenitivo.
Um escarpado renascer de um brado
Para um quase inóspito lugar já, por mim, apossado.
A quem remeto meu choro?

domingo, 6 de março de 2016

A sisudez da fraude na criação
De um caminho das lágrimas que nunca caíram
Perpetra sorrisos que nunca serão frutos vívidos
 - de veracidade aos olhos,
Mas, viciosos em sua natureza,
Mantêm jazido, após uma lasca de ardis,
Um sempiterno embate.
Imaturo, sorri.
Circunspecto, lastimo sorrindo.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

As luzes do sofrimento e do mistifório estão acesas.
Apareço? Ressurjo diante delas?
Puro embuste da sombra que me segue,
Tateia-me num pandemônio, atormenta-me em insídias. 
Ofuscado, confuso, perdido e parado no caminhar,
Tento, carinhosa e fracassadamente, abraçar fantasmas.