sábado, 29 de janeiro de 2011

Viagem

Descobri muito tarde que essa dor não cessa com aspirina
Mas os remédios que tomo são todos tarja preta
Mas para essa solidão não há cura nem mesmo na medicina
E continuo a ingestão deles sem fazer careta

Hoje sei que o gosto das coisas não é mais o mesmo
A amargura da tua ausência some com a pureza do sabor
Sigo ingerindo, engolindo, desperdiçando minha vida a esmo
E ainda sim não vejo solução para este doentio amor

Quero um remédio vencido que me traga alguma alegria
Qualquer droga alucinógena que tire meu ser do real
Quero de volta minha alma, que só há em tua companhia
Quero tudo que acabe com este insuportável mal

Eu sei, eu sei, não quero e nem preciso de muito dinheiro
Mas quero uma onda que cause uma viagem psicodélica
Que me faça viajar o mundo inteiro
E não te procurar em qualquer baralho de casa esotérica.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Remetente: AMOR.

Versos vazios, vida sem graça, desejo de morte.
Pobre menino, hoje morrer seria tua sorte.                           
Mas teu castigo é penar por aí sozinho.
Não há estradas, não há mais ruas, não tens um caminho.

Com os pés no chão, tua roupa do corpo é tua companhia.
Rosto sem sorriso, lágrimas secas, mente vazia.
Não tens mais direito de dizer qualquer coisa ou ter pensamento.
Não serás mais ouvido, nem mesmo tuas súplicas. Este é teu sofrimento.

Só terás alimento para o descontrole, demência, loucura.
Esquecerás dos amigos; da tua família; do amor, a ternura.
E não olhes no espelho, pois o que procuras não está à frente.
Está dentro de ti, escondido, chorando, gritando, doente.

Arranca teus cabelos, queima tua pele, reabre a ferida.
Não terás mais sossego, não terás paz na tua vida.
Perderás o que tens, tudo que tens, deixar-te-ei sem norte.
Pobre menino, se pudesses correr, hoje mesmo morrer, seria tua sorte.

Repetição

Por quantos dias olhei para a porta esperando que tu entrasses.
Por quantos dias não vi minha face no espelho para que não chorasse.
Tanto tempo se passou e a porta não se abriu. Você não entrou.
Tanto tempo se passou e, no meu rosto, toda lágrima secou.

Já nem sei mais quanto tempo estou trancafiado nas paredes da solidão.
Já nem sei mais se tenho vida fora desta injusta prisão.
Dentro dessas grades a luz já não entra, nem o calor, nem há conforto.
Dentro dessas grades já não existo, pareço vivo, embora morto.

Perdi o controle da situação, já não sinto gosto algum ou cheiro.
Perdi o controle até do que penso e à loucura, beiro.
Minha mente me tortura, não quero estar aqui.
Minha mente me tortura, finge o tempo todo que estás aqui.

Tudo é insuportável, minha voz, cada som, cada toque e assim
Tudo é insuportável. Até a vontade de permanecer em mim.
Morte tire-me daqui. Acabe de vez com esta sublime punição.
Morte tire-me daqui. Tu és a única saída para este pobre e partido coração.

Saída

A droga do absurdo cotidiano me consome.
Minha aparência cansada, olhos vermelhos, insone
Demonstra aquilo que já não sou.
Restos sem vida de felicidade, foi só o que me sobrou.

Minha companhia? Apenas do desejo infundado de viver.
Mas ainda lembro dos sonhos em que sorria.
Solidão, angústia, que miséria ainda há de ser?
Estou acordado? Sim, bem mais do que devia.

Percebo olhares cheios de pena voltados a mim.
Ainda hoje vejo coisas que nem sei relatar
Por que em meio à multidão sinto-me assim?
Sinto o cansaço. Já não sei e nem quero mais lutar.

E mesmo as palavras que escrevo machucam
Mas a dor me faz lembrar que tenho aberta, ferida.
Palavras que satisfazem meu vazio, me educam.
Ensinam que já não quero permanecer mais em vida.

Falta-me vida. Sobra-me o desejo de morte.
Sobra-me o desejo de chegar ao fim.
Sair do vazio, sem dor nem receio, enfim, sorte.
É o caminho que resta para mim.

Talvez, dentro desta vida sem eira nem beira.
Eu nunca encontre o que tanto procuro.
Eu a quero, mas talvez nem a morte me queira.
Fui apenas um erro, um tiro no escuro.

Já questionei tanto os desprazeres desse lugar.
Tentei viver da maneira que me era imposto.
Agora o silêncio das respostas vem assombrar
Mas já não caem mais lágrimas neste velho e triste rosto.

Nessa última estrofe tento encontrar sentido
Dentro das coisas que vivo, nas pessoas que vejo.
Parece que não há mais jeito para mim, bandido.
E a morte é meu último e único desejo.