Em dias difíceis, ir à praia sempre melhorou meu ânimo. Isso ou ficar bêbado. Mas ontem tive um arrependimento dos grandes por ter ido à maldita praia. Saí do apartamento de péssimo humor, trajando somente uma bermuda, tênis e capacete. Não estava carregando comigo celular ou qualquer outro tipo de meio de comunicação. Pouco me interessava falar com qualquer pessoa. Apenas subi na moto e pilotei como se estivesse fugindo da morte... ou correndo para ela.
Chegando à praia, não havia local próximo para estacionar, mas depois pensei: “Próximo de onde? Eu não quero ir a lugar algum e qualquer lugar é praia.” Desci da moto e comecei a caminhar. Logo avistei pessoas fazendo exercícios físicos, outras passeando com seus cachorros que vestiam grifes mais caras que as minhas roupas, as quais, na ocasião, eram bem gastas pelo tempo de uso.
Por outro lado, percebi certa quantidade enorme de casais apaixonados namorando, outros apenas discutindo a relação. Em uma dessas discussões avistadas, havia uma jovem muito linda chorando muito, pois seu companheiro - muito feio - acabara de dizer que não a queria mais. Eu queria ter colocado a jovem no colo e consolado sua dor, mas preferi só continuar caminhando. Pessoas, cachorros, relacionamentos... Nada daquilo me interessava.
Depois de alguns minutos avistei uma banca de revista. Encostei e perguntei se havia cigarros. A atendente cantarolava, de olhos fechados, uma música, um dance da década de 90 que escutava em seu celular. Por este motivo não me deu atenção, no primeiro momento. Aguardei pacientemente ela abrir os olhos. Quando o fez, pedi uma carteira de Lucky Strike e um isqueiro. Acabei levando uma carteira de Marlboro e uma caixa de fósforos.
Comecei a caminhar de volta para a moto, pois já estava cansado de tudo: da praia, dos animais, das pessoas, de mim. Acendi um cigarro na segunda tentativa, o que me deixou feliz, pois praia, vento, fogo... A caminhada de volta pareceu mais longa. Talvez eu tenha reduzido o passo para aproveitar o cigarro, mas percebi que o trajeto era longo e certamente eu precisaria de outro cigarro.
Já de volta à moto fiquei sentado olhando para os navios, para o mar, sentindo a “brisa da maré vazante”. No entanto, o que me chamou atenção foram as areias sendo levadas pelo vento, sendo compelidas a caminhar sem direção, se misturando com o meio, forçadamente. Pensei em pessoas sendo arrastadas da mesma forma, forçadas a fazer tudo para terem uma vida digna. Aquilo me fez pensar em algo muito sério, relembrando as palavras de um poeta: “Pouco me importa. Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.” Ou, como pensei naquele momento: “Não dou a mínima para tudo isso. Tenho meus próprios problemas.”