sábado, 24 de dezembro de 2011

Em dias difíceis, ir à praia sempre melhorou meu ânimo. Isso ou ficar bêbado. Mas ontem tive um arrependimento dos grandes por ter ido à maldita praia. Saí do apartamento de péssimo humor, trajando somente uma bermuda, tênis e capacete. Não estava carregando comigo celular ou qualquer outro tipo de meio de comunicação. Pouco me interessava falar com qualquer pessoa. Apenas subi na moto e pilotei como se estivesse fugindo da morte... ou correndo para ela.
Chegando à praia, não havia local próximo para estacionar, mas depois pensei: “Próximo de onde? Eu não quero ir a lugar algum e qualquer lugar é praia.” Desci da moto e comecei a caminhar. Logo avistei pessoas fazendo exercícios físicos, outras passeando com seus cachorros que vestiam grifes mais caras que as minhas roupas, as quais, na ocasião, eram bem gastas pelo tempo de uso.
Por outro lado, percebi certa quantidade enorme de casais apaixonados namorando, outros apenas discutindo a relação. Em uma dessas discussões avistadas, havia uma jovem muito linda chorando muito, pois seu companheiro - muito feio - acabara de dizer que não a queria mais. Eu queria ter colocado a jovem no colo e consolado sua dor, mas preferi só continuar caminhando. Pessoas, cachorros, relacionamentos... Nada daquilo me interessava.
Depois de alguns minutos avistei uma banca de revista. Encostei e perguntei se havia cigarros. A atendente cantarolava, de olhos fechados, uma música, um dance da década de 90 que escutava em seu celular. Por este motivo não me deu atenção, no primeiro momento. Aguardei pacientemente ela abrir os olhos. Quando o fez, pedi uma carteira de Lucky Strike e um isqueiro. Acabei levando uma carteira de Marlboro e uma caixa de fósforos.
Comecei a caminhar de volta para a moto, pois já estava cansado de tudo: da praia, dos animais, das pessoas, de mim. Acendi um cigarro na segunda tentativa, o que me deixou feliz, pois praia, vento, fogo... A caminhada de volta pareceu mais longa. Talvez eu tenha reduzido o passo para aproveitar o cigarro, mas percebi que o trajeto era longo e certamente eu precisaria de outro cigarro.
Já de volta à moto fiquei sentado olhando para os navios, para o mar, sentindo a “brisa da maré vazante”. No entanto, o que me chamou atenção foram as areias sendo levadas pelo vento, sendo compelidas a caminhar sem direção, se misturando com o meio, forçadamente. Pensei em pessoas sendo arrastadas da mesma forma, forçadas a fazer tudo para terem uma vida digna. Aquilo me fez pensar em algo muito sério, relembrando as palavras de um poeta: “Pouco me importa. Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.” Ou, como pensei naquele momento: “Não dou a mínima para tudo isso. Tenho meus próprios problemas.”

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ouço a voz da mãe pedindo que eu jogue um cigarro. Acendo um para ela e jogo pela janela da mesma forma que joguei as minhas esperanças faz muito tempo. Acendo um cigarro para mim. Agora na sala um velho cinzeiro de metal vai se enchendo com as cinzas da minha companhia. Cinzas do que foi já foi algo. Já foi prazer. Já fui prazer. Agora cinzas e apenas cinzas. A vida se tornou como o filtro daquele cigarro que fumei. Passa a ilusão de que o pior ficou para trás, quando se sabe que por mais prazer que se tenha durante os tragos de felicidade, absorve-se somente o ruim e se ganha uma grande ferida, um câncer para a alma.
Entretanto, mesmo sabendo quão ruim tudo pode ser, sempre preciso de mais um cigarro, de mais uma ferida, mais prazer momentâneo. A mãe entra em casa e tento fingir um sorriso enquanto ainda sobe fumaça daquele resto de chama. Tento ser breve e rápido, mas no momento em que escrevi essa última linha, a chama fraca do cigarro se apaga, bem como a luz, a minha luz. Só a lembrança angustiante de algum prazer me consome agora. Na mesma hora em que a tosse me faz lembrar que mesmo durante o prazer a dor se faz presente. Levanto para jogar o resto de cinzas no lixo, mas com elas não se vai a dor. Não se pode jogar as dores no lixo, embora a felicidade já esteja lá muito antes das cinzas.
A vida não é mais nada além de um acender de cigarro, onde cada tragada é um sentimento bom que se acaba como uma baforada de fumaça, mas deixa resquícios dolorosos em nosso corpo, um prazer viciante e temporário que vai acabar me levando à morte, pois à dor e à loucura já me levou.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Que solidão?

Por algum tempo tenho andado sozinho. Desnecessário. Eu poderia parar de andar e apenas ficar sozinho. Porém não posso. Minha mente sussurra bobagens que não quero ouvir. É uma constante briga entre alguém que não poderia ou não deveria falar e outro que não gostaria, mas continua a ouvir. Só os cegos podem ver.

liberdade

Liberdade. Quem conhece, afirma não existir. Quem não conhece diz ser perfeita. Há muitos tentando correr atrás, quando se pode apenas sentar e esperar. Outros morrem de esperar e nunca a alcançam. Creio que a liberdade é como o Deus que eu tentei, certa vez, descrever não existir todos os dias. Há momentos em que piamente se acredita ser livre ou ter liberdade, como queiram. No entanto, com os pés no chão, o ser sabe não existir tal condição. É algo intocável, transcendente, mas quando assumimos que ela verdadeiramente não existe é quando mais lutamos para senti-la, humanizá-la. Fala-se em liberdade de expressão, de ir e vir, contratual... Tudo isso é balela. Coisa do homem que, como dizia Raul, “humano, ridículo, limitado, que só usa 10% da sua cabeça animal”. Como um ser assim imagina algo puro e simples como a liberdade, afirma ser verdadeiro, mesmo contra todas as provas que dizem o contrário? Ainda achas que és livre? Ainda tens essa ilusão? Claro que sim! Óbvio que tens. Assim como eu...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vida

Dois mundos diferentes. Minha vida e o que eu escolho viver.
Minha vida segue sem pressa, passos curtos, caminho c correto e conhecido.
Eu quero, antes de andar, correr até cansar. Quero não ter um destino fixo para alcançar.
A vida está atrelada a fatores alheios, regada a desmandos e restrições.
Eu quero gritar meu nome bem alto, dizer o que sinto e fazer o que há que ser feito.
Sobre ela sobra prudência, caretice, pudor.
Já não me basta somente correr. Desejo cair para admirar mais de perto o chão em que piso. Quero sentir a dor física, a dor da partida, o prazer do proibido, o peso da consciência.
Desejo tanto viver, mas a vida não deixa...

sábado, 29 de janeiro de 2011

Viagem

Descobri muito tarde que essa dor não cessa com aspirina
Mas os remédios que tomo são todos tarja preta
Mas para essa solidão não há cura nem mesmo na medicina
E continuo a ingestão deles sem fazer careta

Hoje sei que o gosto das coisas não é mais o mesmo
A amargura da tua ausência some com a pureza do sabor
Sigo ingerindo, engolindo, desperdiçando minha vida a esmo
E ainda sim não vejo solução para este doentio amor

Quero um remédio vencido que me traga alguma alegria
Qualquer droga alucinógena que tire meu ser do real
Quero de volta minha alma, que só há em tua companhia
Quero tudo que acabe com este insuportável mal

Eu sei, eu sei, não quero e nem preciso de muito dinheiro
Mas quero uma onda que cause uma viagem psicodélica
Que me faça viajar o mundo inteiro
E não te procurar em qualquer baralho de casa esotérica.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Remetente: AMOR.

Versos vazios, vida sem graça, desejo de morte.
Pobre menino, hoje morrer seria tua sorte.                           
Mas teu castigo é penar por aí sozinho.
Não há estradas, não há mais ruas, não tens um caminho.

Com os pés no chão, tua roupa do corpo é tua companhia.
Rosto sem sorriso, lágrimas secas, mente vazia.
Não tens mais direito de dizer qualquer coisa ou ter pensamento.
Não serás mais ouvido, nem mesmo tuas súplicas. Este é teu sofrimento.

Só terás alimento para o descontrole, demência, loucura.
Esquecerás dos amigos; da tua família; do amor, a ternura.
E não olhes no espelho, pois o que procuras não está à frente.
Está dentro de ti, escondido, chorando, gritando, doente.

Arranca teus cabelos, queima tua pele, reabre a ferida.
Não terás mais sossego, não terás paz na tua vida.
Perderás o que tens, tudo que tens, deixar-te-ei sem norte.
Pobre menino, se pudesses correr, hoje mesmo morrer, seria tua sorte.

Repetição

Por quantos dias olhei para a porta esperando que tu entrasses.
Por quantos dias não vi minha face no espelho para que não chorasse.
Tanto tempo se passou e a porta não se abriu. Você não entrou.
Tanto tempo se passou e, no meu rosto, toda lágrima secou.

Já nem sei mais quanto tempo estou trancafiado nas paredes da solidão.
Já nem sei mais se tenho vida fora desta injusta prisão.
Dentro dessas grades a luz já não entra, nem o calor, nem há conforto.
Dentro dessas grades já não existo, pareço vivo, embora morto.

Perdi o controle da situação, já não sinto gosto algum ou cheiro.
Perdi o controle até do que penso e à loucura, beiro.
Minha mente me tortura, não quero estar aqui.
Minha mente me tortura, finge o tempo todo que estás aqui.

Tudo é insuportável, minha voz, cada som, cada toque e assim
Tudo é insuportável. Até a vontade de permanecer em mim.
Morte tire-me daqui. Acabe de vez com esta sublime punição.
Morte tire-me daqui. Tu és a única saída para este pobre e partido coração.

Saída

A droga do absurdo cotidiano me consome.
Minha aparência cansada, olhos vermelhos, insone
Demonstra aquilo que já não sou.
Restos sem vida de felicidade, foi só o que me sobrou.

Minha companhia? Apenas do desejo infundado de viver.
Mas ainda lembro dos sonhos em que sorria.
Solidão, angústia, que miséria ainda há de ser?
Estou acordado? Sim, bem mais do que devia.

Percebo olhares cheios de pena voltados a mim.
Ainda hoje vejo coisas que nem sei relatar
Por que em meio à multidão sinto-me assim?
Sinto o cansaço. Já não sei e nem quero mais lutar.

E mesmo as palavras que escrevo machucam
Mas a dor me faz lembrar que tenho aberta, ferida.
Palavras que satisfazem meu vazio, me educam.
Ensinam que já não quero permanecer mais em vida.

Falta-me vida. Sobra-me o desejo de morte.
Sobra-me o desejo de chegar ao fim.
Sair do vazio, sem dor nem receio, enfim, sorte.
É o caminho que resta para mim.

Talvez, dentro desta vida sem eira nem beira.
Eu nunca encontre o que tanto procuro.
Eu a quero, mas talvez nem a morte me queira.
Fui apenas um erro, um tiro no escuro.

Já questionei tanto os desprazeres desse lugar.
Tentei viver da maneira que me era imposto.
Agora o silêncio das respostas vem assombrar
Mas já não caem mais lágrimas neste velho e triste rosto.

Nessa última estrofe tento encontrar sentido
Dentro das coisas que vivo, nas pessoas que vejo.
Parece que não há mais jeito para mim, bandido.
E a morte é meu último e único desejo.