terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sentido proibido

Siga em frente, elas tentam ordenar.
Mude de sentido, não vá por aí,
Volte de onde estás.
Placas, sinais, avisos durante todo o caminho.
Talvez a falta deles fizesse mais sentido,
Mas em qual sentido continuar?
Nessa autoestrada, não vejo horizonte, não vejo limites
E toda essa sinalização impede de me ultrapassar.
Esqueço o tráfego e sigo no modo automático
Para um destino que desconheço muito bem.
Ofego, somático transeunte dentro desta máquina,
Sinalizo para o outro, que recusa a enxergar e
Eu me distraio olhando o retrovisor.
Vejo-me imprudente, infrator e sobe-me, tão alta,
A culpa pela intenção de querer sê-lo.
Destino selado.
Morto por precisas indicações,
Vivo por um irresoluto, mas desejado,
Acidente.

sábado, 14 de novembro de 2015

Olho pelas grades da janela.
O caos lá fora parece convidativo.
Para que janelas, se o mundo é proibido?
Meu corpo acorrentado nesta tranquilidade pede conflitos.
Quebro as janelas e arranco as grades de contenção dos meus desejos.
Sinto falta das necessidades que ainda não conheço.
Existir é estupidez.
Insistir é loucura.
Palavras não são refúgio.
Continuar é burrice.
Ceder, desistir, deixar, parar, desconhecer. 
Há um mundo aqui dentro que não conheço tão bem, 
Mas ele também me é proibido.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Libertação do flagelo

Há tanta escuridão aqui dentro, tanto desespero, perda, culpa, vergonha.
Tento, em vão, abrir os olhos para fora.
Temo não mais enxergar a saída.
Sujo-me de sangue, fincando minhas garras na pele,
Tentando me arrancar, a todo custo, daqui,
Desse quarto sem paredes ou grades,
Dessa imensa prisão que sou eu.
A troca de dores parece ser constante e necessária.
Inflijo-me certo horror corporal para esquecer
A dificuldade que é estar aqui, jogado ao mundo violento.
Experimento o gosto da minha própria carne despedaçada,
A fim de reorganizar os estilhaços dos afetos
Que jazem espalhados e ainda perdidos
Numa história de lutas e rotineiras rendições ao inferno que é viver
Em mim.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Esvair-se

Eu estava certo sobre algo – eu estava errado.
Já havia visto aquela cena ridícula.  
Provavelmente com outros atores, mas
Definitivamente a mesma cena.
De forma bem particular, eu a vi sorrindo para mim.
Não cometerei mais esse erro, penso agora.
Sei que me engano e acho que é proposital.
Sempre a verei sorrindo, convidativamente.
Ela mostra o rumo e futuros frutos,
Mas eu só enxergo as pedras no caminho
E mesmo faminto, sedento, eu paro.
Não há ânimo para segui-la ou tentar segurá-la perto de mim.
Eu a vejo aquela vida, que foi minha um dia, se distanciando
Talvez aquilo não seja mais ela, tampouco, sua sombra.
Resta-me este paraíso inóspito.
Resto-me nesse absurdo que é apenas existir

sábado, 31 de janeiro de 2015

Vadio

Sinto falta de todas aquelas vozes
De todos os gritos estridentes em minha cabeça
Dizendo que nada acabaria bem
                                - a verdade
Estive crente no equívoco da presença da felicidade
Agora, desatento, posso tentar me reconhecer
Omisso e combalido
Devoluto, pois tenho me abandonado
E talvez eu queira abraçar a benção dessa angústia
Que mal trará o plácido afago deste desconhecer?


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Objeto

És tão tua que tenho de lidar comigo mesmo
Nos anseios, nas entonações que machucam
No revelar dos pensamentos que eu não queria ter
Não queria ouvir – nem mesmo sentir
Eu grito com os olhos e tu, cega pela ferida
– recém-aberta
Já não encontras qualquer subterfúgio
Para as palavras que pronunciaste
Quando havia encontrado esse lado humano
Quando pensei que havia alguém
Já não penso
Tu me defines e, ao me definir
Tu me definhas
Tu me açoitas
E lanças-me nas entrelinhas da dúvida
Do inseguro sentir